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Apsaras e o Corpo Sagrado: Desconstruindo o Temor do Feminino

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7/11/25

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A Lua está atualmente na constelação de Sravana, no Signo de Aquário, em 01:13. Essa constelação possui uma energia incrivelmente mediúnica e de forte ápice Lunar. É uma verdadeira ponte entre mundos, que permite sentir vibrações cósmicas muito sutis – além de ser uma energia absolutamente auspiciosa para vibrar e se alinhar com o seu próprio Cosmos. Além disso, possui uma energia muito feminina, de forte caráter Devocional e energica. Apesar das Apsaras pertencerem (literalmente) a uma constelação Venusiana, a sua feminilidade, vibração sutil e devocional me fizeram refletir sobre a multiplicidade do poder do feminino e como, infelizmente, ainda temos muito a contemplar e a mudar. Desde a forma que dançamos com todos esses aspectos no nosso microcosmo como no macrocosmo.

No Tantra, a jornada feminina é uma experiência intrinsecamente física. Para uma mulher tornar-se uma Bhairavi, uma praticante do Tantra, é necessário abraçar a totalidade do seu corpo, incluindo suas qualidades criativas e “destrutivas”. Esse processo não é apenas sobre autoaceitação, mas também sobre coragem para encarar preconceitos internos e externos.

O termo sânscrito “apsaras” deriva etimologicamente de “ap” (água) e “saras” (fluir)—literalmente, “aquelas que fluem das águas.” Esta designação revela algo muito importante: as Apsaras representam princípios fluidos de transformação, manifestações da Prakrti (natureza primordial) em sua qualidade dinâmica. Sua função cosmológica e de caráter iniciático envolve precisamente a dissolução de estruturas rígidas—tanto externas quanto internas—que obstruem o fluir natural da consciência.

Como expressa o Matsya Purana: “As Apsaras residem nas junções entre mundos.” Esta localização liminar revela sua função como guias através de posições de transformações —entidades que facilitam a passagem entre estados de consciência precisamente através de sua corporificação da beleza manifestada como ponte entre material e transcendente.

Uma linda Apsara abaixo:

A imagem da Apsara—a dançarina celestial que manifesta a beleza Divina em forma feminina—convida-nos a contemplar uma dimensão frequentemente ausente das escrituras espirituais da época atual: a sacralidade inerente do corpo feminino não como metáfora abstrata, mas como manifestação concreta do sagrado. Quando estudamos estes antigos vestígios de sabedoria, vemos mais que simples objetos históricos. Encontramos um chamado importante para entender como nossa cultura criou medos em relação ao feminino e como podemos superar esses medos através de um processo de transformação pessoal.

Os templos de Khajuraho, com suas paredes ornamentadas por figuras femininas em poses sensuais e casais em união sexual, não representam meros exemplos históricos, mas constituem textos de um passo a passo tridimensional—escritos não em pergaminho, mas em pedra. Estas esculturas corporificam a compreensão distinta da relação entre sacralidade e corporalidade: não oposição, mas continuidade essencial; não transcendência através da negação do corpo, mas através de sua abordagem consciente.

Como observou a historiadora de arte Stella Kramrisch: “O templo não simboliza meramente o cosmos; ele é o cosmos.” Esta observação mostra a dimensão crucial: a presença das apsaras nas paredes dos templos não constitui adorno, mas elemento integral da arquitetura sagrada—veículo através do qual o devoto é iniciado gradualmente dos aspectos manifestos aos não-manifestos da Divindade. O corpo feminino não aparece como sensualidade mundana, mas como manifestação do sagrado—manifestação direta do sagrado em forma tangível.

A Construção Cultural do Temor do Feminino

Mulheres são Maya. Elas são o Espelho Cósmico, a Musa feita pela Natureza, a própria Natureza em corpo humano. Uma das suas muitas funções sagradas, é a de quilibrar, revigorar ou destruir. Revigorar o forte, equilibrar o que fielmente busca sua melhora, e destruir o fraco. E neste papel, os pequeninos homens, quando olham para uma mulher, ficam aterrorizados por sua própria falta de virilidade, pois a Mulher reflete a possível bestialidade do homem, e então, rapidamente, eles buscam cobrir, destruir e matar a sua própria salvação.

Homens que temem o sexo, por exemplo, buscam controlar os corpos das mulheres, fazem isso por medo devido à sua própria falta de autocontrole. A supressão do feminino (até mesmo em sua condição mais básica de cuidado, adorno, maquiagem, roupas) fundamenta-se não meramente em dinâmicas de poder político-econômico, mas em profundo temor existencial daquilo que o feminino representa—fluidez, receptividade, dissolução de fronteiras rígidas, continuidade entre imanência e transcendência.

Este temor manifesta-se historicamente através da gradual dessacralização do corpo feminino—sua transformação de veículo do divino em fonte de “tentação” e “queda.” Como documentou a historiadora Gerda Lerner em “The Creation of Patriarchy”: “A transformação da sexualidade feminina em mercadoria precedeu o desenvolvimento da produção de mercadorias para troca… A mulher e sua transformação em objeto (coisa) sexual foi o primeiro passo na criação do patriarcado como sistema.”

Esta dessacralização operou não apenas através de proibições explícitas, mas através da construção de categorias opostas mutuamente exclusivas: sagrado/profano, espiritual/corporal, puro/impuro, virgem/prostituta. Estas divisões artificiais fragmentaram a percepção integrada do feminino, impossibilitando seu reconhecimento como manifestação simultaneamente imanente e transcendente do divino.

Se uma mulher sente vergonha de seu corpo feminino, nenhum crescimento espiritual pode ocorrer. A fragmentação perceptiva imposta pela construção cultural desse medo não distorce apenas a percepção do outro, mas fragmenta a autoconsciência, impossibilitando a integração necessária para realização espiritual autêntica.

Os templos de Khajuraho, com suas explícitas representações do corpo feminino e da união sexual, não manifestam um tipo de celebração hedonística, mas um método de iniciação precisamente feito para desconstruir qualquer medo. Visto que, aqueles que desejam orar a Deus o farão mesmo diante de imagens sensuais. A verdadeira transcendência não emerge da negação do corpo, mas do seu entendimento através de percepção purificada.

O posicionamento das Apsaras nas paredes externas dos templos—não ocultas em espaços interiores, mas explicitamente visíveis—revela algo crucial: a iniciação começa precisamente com reconciliação do aparentemente mundano com o explicitamente sagrado. O devoto, ao aproximar-se de Deus, deve literalmente passar pelas representações da beleza do corpo feminino—não evitá-las ou transcender (algo impossível), mas integrá-las conscientemente em compreensão progressivamente mais refinada da natureza divina.

Esta metodologia encontra paralelo direto nas práticas tântricas que empregam precisamente aqueles elementos considerados “impuros” pela religiosidade convencional como veículos para realização espiritual. Como expressa o Kularnava Tantra: “Pelos mesmos atos que fazem alguns homens queimarem no inferno por milhões de anos, o yogin obtém sua salvação eterna.” Esta aparente contradição se dissolve quando compreendemos que a diferença crucial reside não na ação externa, mas na consciência que a permeia.

O Convite à Desconstrução do Medo

A tradição das Apsaras e a sabedoria dos templos de Khajuraho oferecem insights surpreendentemente sofisticados para desconstrução do temor/terror/medo que continua fundamentando tanto estruturas sociais quanto fragmentação psíquica interior. Esta abordagem não envolve um tipo de rebelião, mas transmutação alquímica da própria percepção—transformação que permite reconhecimento do Divino precisamente naquilo que previamente temíamos ou desvalorizávamos.

Como observou o filósofo Jean Gebser: “A consciência integral não emerge através de mera síntese dos opostos, mas através de integração que simultaneamente transcende e inclui polaridades aparentemente irreconciliáveis.” A tradição das Apsaras oferece precisamente tal integração—reconhecimento da beleza corpórea não como antítese da transcendência espiritual, mas como seu veículo potencial e expressão tangível.

Ao contemplarmos estas sabedorias ancestrais no contexto de nossa época moderna, somos não apenas convidados a reavaliar ideias religiosas complexas, mas a transformar radicalmente nossa própria experiência —a reconhecer que a desconstrução do medo não constitui luxo espiritual, mas necessidade urgente para reintegração tanto individual quanto coletiva. Como Eu expressei: “Se uma mulher sente vergonha de seu corpo feminino, nenhum crescimento espiritual pode ocorrer.” Esta observação aplica-se não apenas a mulheres individuais, mas à consciência coletiva que continua temendo e reprimindo o princípio feminino em suas manifestações tanto internas quanto externas.

Que possamos, através destas contemplações, participar conscientemente da mudança de percepções fragmentadas —reconhecendo o corpo não como obstáculo, mas portal para realização integrada que honra simultaneamente nossas particularidades e nossa universalidade. Nas palavras do Vijñāna Bhairava Tantra: “O mesmo corpo que alguns consideram prisão, o sábio reconhece como templo onde o Divino manifesta-se plenamente”.

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